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Neri Geller defende Terceiro Ciclo Agroindustrial e coloca Baixada Cuiabana no centro do Debate Econômico

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Em entrevista ao programa Espaço Aberto, o ex-ministro da Agricultura e ex-deputado federal Neri Geller afirmou que Mato Grosso precisa se preparar para viver o que ele chama de “terceiro ciclo agroindustrial”.

Segundo ele, a Baixada Cuiabana deve ser protagonista dessa nova fase, com a instalação de grandes indústrias ligadas ao setor produtivo e à transformação de matérias-primas.

 

Ao longo da conversa, Geller relembrou os dois ciclos anteriores de desenvolvimento do Estado.

O primeiro, segundo ele, foi marcado pela expansão da avicultura e da suinocultura, que ajudaram a agregar valor à produção de carne e a gerar empregos a partir de 2010. O segundo veio com a energia limpa, especialmente com os investimentos bilionários em etanol e biodiesel. “Hoje, só nesse setor já temos mais de 70 bilhões de reais investidos em Mato Grosso, o que trouxe renda, emprego e mais competitividade”, afirmou.

 

Agora, o ex-ministro defende que é hora de pensar em um terceiro momento, desta vez centrado na região metropolitana de Cuiabá.

“Precisamos organizar a Baixada Cuiabana para receber indústrias de grande porte, como montadoras de tratores, caminhões, fábricas de pneus, empresas de fertilizantes e defensivos agrícolas. Não faz sentido essas indústrias ficarem no Sul e Sudeste, se é aqui que está o grande mercado consumidor do agronegócio”, argumentou.

 

Para viabilizar esse projeto, Geller aponta como essencial a construção de um distrito industrial robusto, inspirado no modelo de Lucas do Rio Verde, mas com ambição muito maior. Ele reconhece que já existe uma estrutura em Cuiabá, mas considera que ela é insuficiente: “O distrito industrial atual está muito longe do que precisa ser. Temos que pensar grande e estruturar uma área que possa acolher empresas de transformação, montadoras e toda a cadeia de equipamentos agrícolas”, defendeu.

 

A logística aparece como peça-chave na proposta. O ex-ministro destacou a importância do Contorno do Anel Viário de Cuiabá, que vem sendo executado pelo governo Mauro Mendes, e reiterou a necessidade de garantir a chegada da ferrovia até a capital. “A ferrovia precisa vir para Cuiabá. Quando isso acontecer, vai mudar completamente a nossa realidade. Resolveremos parte do problema de logística, reduziremos custos e criaremos condições para modernizar o parque industrial da Baixada Cuiabana”, afirmou.

 

Outro ponto ressaltado por Geller é a qualificação da mão de obra. Ele defende a criação de políticas públicas voltadas para capacitar trabalhadores locais, de modo a assegurar que os empregos gerados permaneçam na região. “Não adianta trazer grandes indústrias se não tivermos gente preparada. É preciso investir em cursos técnicos, formar jovens e organizar programas de qualificação para que a população possa ocupar essas vagas”, disse.

 

A entrevista também teve espaço para reflexões políticas. De maneira descontraída, Geller mencionou sua trajetória, lembrando que saiu de uma pequena propriedade no oeste catarinense, foi assentado da reforma agrária e chegou ao comando do Ministério da Agricultura. “De frentista de posto e catador de raiz, acabei virando ministro. Não só fui ministro, como ajudei muito o Estado”, afirmou, em tom bem-humorado.

 

Ao falar sobre o futuro, ele confirmou que prepara sua volta ao Congresso Nacional e colocou seu nome como pré-candidato a deputado federal em 2026. “Falta gente em Brasília que saiba dialogar com direita, centro e esquerda para aprovar as grandes pautas. Já liderei debates importantes, como o licenciamento ambiental, a lei dos defensivos agrícolas e a regularização fundiária. Agora, quero voltar para liderar novamente a bancada de Mato Grosso nos grandes desafios que estão por vir”, declarou.

 

Na avaliação de Neri Geller, Mato Grosso reúne todas as condições para se transformar em um polo industrial de relevância nacional, sem abrir mão da força do agronegócio.

“Nós já somos os melhores em produtividade agrícola e em produção de energia limpa. Agora é hora de sermos fortes também na indústria. Mato Grosso tem tudo para ser um novo São Paulo”, concluiu.

 

Embora o discurso de Neri Geller aponte para um horizonte de desenvolvimento arrojado, os desafios para concretizar o chamado “terceiro ciclo agroindustrial” estão longe de ser simples.

A Baixada Cuiabana ainda enfrenta gargalos históricos em infraestrutura básica, como abastecimento de energia elétrica estável, saneamento e mobilidade urbana. Sem esses pilares, a atração de grandes indústrias pode se tornar inviável ou extremamente onerosa.

 

O próprio ex-ministro reconhece que será necessário construir um ambiente institucional sólido, capaz de oferecer segurança jurídica e políticas de incentivo consistentes.

“É preciso criar condições para que as empresas venham com confiança. Não basta esperar que o investimento apareça do nada, o poder público precisa liderar esse processo”, destacou.

Na prática, isso envolve desde isenções fiscais até a implantação de distritos industriais modernos, com logística integrada e acesso garantido a insumos estratégicos.

 

Outro ponto sensível é o fator ambiental. Mato Grosso, ao mesmo tempo em que é vitrine do agronegócio mundial, também é alvo constante de críticas internacionais relacionadas ao desmatamento e à pressão sobre os biomas.

Para Geller, a solução passa pela tecnologia e pela biotecnologia. Ele citou a aprovação da lei dos defensivos agrícolas e a expansão de produtos genéricos como exemplo de como a legislação pode equilibrar produtividade e sustentabilidade.

“Se o consumo de insumos é aqui, faz sentido que a produção também esteja aqui. Isso vai baratear custos, gerar emprego e diminuir a dependência de outras regiões”, argumentou.

 

No campo político, a retomada da industrialização da Baixada Cuiabana também exigirá diálogo entre diferentes esferas de poder.

O ex-ministro fez questão de reconhecer o papel do governo estadual nas obras estruturais já em andamento, mas defendeu uma ação mais ampla e coordenada.

“O que está sendo feito é importante, mas precisamos de um projeto gigante, que olhe para Mato Grosso como ele merece ser olhado. Temos que pensar em competir com o mundo, e não apenas com o Centro-Oeste”, disse.

 

O discurso de Neri Geller revela, portanto, uma tentativa de reposicionar a Baixada Cuiabana dentro da estratégia de desenvolvimento de Mato Grosso.

Ao mesmo tempo, sinaliza sua movimentação para recuperar protagonismo político em Brasília, a partir de uma plataforma que combina experiência no agronegócio, defesa de pautas econômicas e um projeto de industrialização robusto.

 

Se esse “terceiro ciclo” se concretizar ou não dependerá de fatores que vão muito além da vontade política de um único líder.

O sucesso do projeto exigirá investimentos bilionários, cooperação institucional, equilíbrio ambiental e, sobretudo, capacidade de transformar promessas em políticas de longo prazo.

Até lá, a proposta de transformar Cuiabá e Várzea Grande em um polo industrial do agronegócio brasileiro permanece como uma ambição em construção — e um tema que deve ganhar cada vez mais espaço no debate político e econômico do Estado nos próximos anos.

 

Assista a entrevista completa:

 

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