Durante a LIDE Brazil Conference em Londres, realizada no The Savoy Hotel, o governador de Mato Grosso, Mauro Mendes, apresentou uma análise profunda sobre a evolução do agronegócio brasileiro e os desafios à sua sustentabilidade. O painel, intitulado “Sustentabilidade Ambiental e Desenvolvimento do Agronegócio no Brasil”, reuniu líderes e especialistas de diversos setores, entre eles o governador do Mato Grosso do Sul, Eduardo Riedel, e Mariana Lisbôa, diretora global de Relações Corporativas da Suzano. O debate foi moderado pela jornalista Raquel Landim e pela ex-ministra do Meio Ambiente, Izabella Teixeira, trazendo uma discussão ampla sobre o papel do Brasil na produção de alimentos e as questões ambientais que permeiam o setor.
Mauro Mendes iniciou sua fala com um cumprimento às autoridades e participantes presentes, enfatizando a importância do agronegócio para a economia nacional e destacando o papel do estado de Mato Grosso como líder nesse setor. “Estamos aqui para falar sobre o agronegócio brasileiro e a sustentabilidade, tanto em um contexto global quanto nacional. Quando falamos em agro no Brasil, é fundamental reconhecer a importância que meu estado, Mato Grosso, desempenha dentro desse cenário.”
Mendes fez uma comparação histórica sobre como o Brasil transformou-se, em poucas décadas, de um importador de alimentos para um dos maiores exportadores globais. Ele lembrou que o país foi, por muitos anos, reconhecido mundialmente como “o país do futebol”, mas que hoje esse protagonismo se transferiu para o setor agrícola. “O Brasil era conhecido pelo futebol, dominando a cena mundial até os anos 90. Mas, enquanto perdíamos espaço no esporte, conseguimos, em 40 anos, sair de uma posição de importador líquido de alimentos para nos tornarmos o maior exportador de alimentos do planeta”, disse ele, atribuindo parte desse sucesso à Embrapa e à inovação no cultivo do Cerrado.
Mauro Mendes enfatizou que, apesar do avanço impressionante do agronegócio, o setor ainda sofre com deficiências graves na infraestrutura. “O papel do Estado na provisão de infraestrutura não acompanhou a velocidade com que os empreendedores desbravaram e desenvolveram nosso país”, observou o governador. Ele citou duas iniciativas emblemáticas lideradas por seu governo: a duplicação de 850 quilômetros de uma rodovia federal, assumida pelo estado após falhas da iniciativa privada, e a extensão de uma ferrovia pela empresa Rumo, que se expande para atender as demandas logísticas no sul de Mato Grosso.
“A infraestrutura é um gargalo para o nosso desenvolvimento. Essas duas obras são exemplos de iniciativas estaduais que tentam suprir uma carência nacional e são cruciais para o escoamento da nossa produção e competitividade no mercado global”, afirmou Mendes.
O governador abordou o tema das ilegalidades ambientais como um dos principais obstáculos para a imagem e a expansão sustentável do agronegócio brasileiro. “Temos uma das legislações ambientais mais protetivas do planeta, mas convivemos há muitos anos com o problema do desmatamento ilegal. Isso, somado a narrativas internacionais que denigrem nosso país, cria um cenário de risco para o agronegócio”, alertou Mendes. Ele destacou ainda a falta de capacidade de armazenagem como um desafio estrutural sério, sugerindo a necessidade de políticas públicas robustas para corrigir essa deficiência.
O governador também chamou atenção para a ausência de um seguro agrícola eficaz, especialmente frente às mudanças climáticas. “Um seguro agrícola robusto é essencial para nos proteger de riscos climáticos, que se tornam cada vez mais iminentes. Se tivermos uma crise climática severa, o impacto sobre o agronegócio pode ser devastador para a economia do país.”
Mauro Mendes ressaltou que Mato Grosso já pratica a sustentabilidade em larga escala e tem planos de expansão sem agredir o meio ambiente. “Com 60% do território preservado, nosso estado é o maior produtor agrícola do Brasil. Se fôssemos um país, seríamos o oitavo maior produtor de alimentos do mundo, com uma safra que pode dobrar nos próximos dez anos sem desmatamento adicional”, afirmou, reforçando o compromisso do estado com práticas agrícolas sustentáveis.
Além disso, o governador destacou a diversificação das produções no Mato Grosso, incluindo a agricultura familiar, que tem avançado em culturas como o café. “Essa diversidade demonstra a capacidade de Mato Grosso de responder à demanda global de alimentos de forma sustentável”, disse ele.
Ao abordar as projeções demográficas, Mendes apontou que, até 2070, Mato Grosso será o único estado brasileiro com crescimento populacional significativo, impulsionado pelo desenvolvimento do agronegócio e pelos investimentos em infraestrutura. “Estamos investindo cerca de 20% da nossa arrecadação anual em infraestrutura, o maior percentual entre os estados brasileiros, assegurando um ambiente propício para o crescimento econômico”, explicou.
Para consolidar essa visão de crescimento, o governo do estado lançou um pacote de concessões rodoviárias de mais de 2.000 quilômetros, em parceria com a iniciativa privada. Mendes também anunciou a intenção de levar esses projetos à BR163, visando atrair mais investimentos para fortalecer a infraestrutura e apoiar o setor agropecuário.
Mauro Mendes criticou o consumo recorde de carvão em 2023, ressaltando a responsabilidade global na mitigação das mudanças climáticas e o papel do Brasil como líder em preservação ambiental. “A sustentabilidade é uma responsabilidade compartilhada. Os países desenvolvidos precisam fazer a sua parte, enquanto o Brasil, que já preserva tanto, continua comprometido com a produção sustentável”, declarou.
O governador encerrou sua participação com um alerta sobre a importância de resolver as questões internas para assegurar que o agronegócio brasileiro continue competitivo e sustentável. “Se fizermos a nossa lição de casa e enfrentarmos esses desafios com seriedade, o agronegócio brasileiro pode evitar o declínio que vimos em outros setores, como o futebol.”
A apresentação de Mauro Mendes foi uma defesa enfática do potencial do Brasil como potência agrícola, com um apelo à ação coordenada entre os setores público e privado para superar os obstáculos que ainda persistem no caminho da sustentabilidade e do crescimento econômico.