Um levantamento realizado pela equipe de reportagem do Momento MT, com base em dados fornecidos pela assessoria da Polícia Judiciária Civil de Mato Grosso (PJC-MT), mostra que a maioria dos autores de feminicídio no estado, entre janeiro e junho de 2025, estava desempregada ou exercia atividades informais no momento do crime.
As informações constam no relatório oficial “Feminicídios em Mato Grosso – 1º semestre de 2025”, elaborado pela Coordenadoria de Estatística e Análise Criminal da PJC-MT. O documento analisa 27 casos registrados no período e traça o perfil social e econômico dos agressores, evidenciando a relação entre vulnerabilidade financeira, histórico de violência doméstica e desigualdade de gênero.

Maioria dos agressores não tinha vínculo formal de trabalho
De acordo com o relatório, 54% dos autores de feminicídio em Mato Grosso não possuíam emprego formal.
Entre eles, 27% estavam desempregados, enquanto outros 17% atuavam de forma autônoma ou informal, em ocupações como pedreiros, trabalhadores rurais, motoristas e prestadores de serviço.
O restante se distribuía entre funcionários públicos, militares e profissionais da iniciativa privada, em percentuais menores.
A PJC-MT destaca que, em parte dos casos, o desemprego e a instabilidade financeira foram fatores que contribuíram para o agravamento dos conflitos conjugais, somando-se a comportamentos possessivos e históricos de violência.
“Em várias ocorrências, os autores apresentavam situação de vulnerabilidade socioeconômica, com ausência de renda fixa e histórico de uso de álcool ou outras drogas. A combinação desses fatores se mostra recorrente entre os registros de feminicídio”, diz trecho do relatório analisado pela equipe do Momento MT.
Perfil dos autores
O relatório revela ainda que a maior parte dos suspeitos:
Tinha entre 25 e 44 anos;
Possuía ensino fundamental incompleto (68% dos casos);
E renda média familiar de até dois salários mínimos.
Em 31% dos registros, os agressores já haviam respondido a ocorrências anteriores de violência doméstica, e em 37% deles, havia indícios de embriaguez ou uso de drogas no momento do crime.
A motivação predominante segue sendo o ciúme e o término do relacionamento, segundo a classificação da PJC-MT.
Cidades com registros e contextos recorrentes
Os feminicídios analisados ocorreram em 21 municípios de Mato Grosso, entre eles Cuiabá, Várzea Grande, Sinop, Rondonópolis, Sorriso, Lucas do Rio Verde, Barra do Garças e Tangará da Serra.
No caso registrado em Tangará da Serra, o relatório indica que o crime foi motivado por ciúme e desentendimento conjugal, sem menção a questões financeiras.
Em Rondonópolis, Sinop e Lucas do Rio Verde, os casos também envolveram companheiros ou ex-companheiros das vítimas, muitas vezes após o término da relação.
De acordo com a PJC-MT, 88% dos feminicídios tiveram como autores companheiros ou ex-companheiros, e 78% das mortes ocorreram dentro da residência da vítima.
Violência com raízes sociais
A análise da PJC-MT aponta que o feminicídio, em Mato Grosso, não pode ser compreendido isoladamente como um ato passional, mas como resultado de um contexto social que combina vulnerabilidade econômica, dependência afetiva e desigualdade de gênero.
“O desemprego e a falta de perspectivas profissionais dos autores contribuem para o desequilíbrio de poder nas relações e ampliam o risco de violência. O fator econômico é um elemento de tensão que, somado ao machismo e à falta de controle emocional, resulta em tragédias familiares”, afirma o relatório.
Segundo semestre já soma 20 novos casos
A Polícia Judiciária Civil de Mato Grosso informou à equipe do Momento MT que, entre julho e outubro de 2025, mais 20 feminicídios foram registrados no estado.
Um novo relatório consolidado, abrangendo todo o ano, deve ser divulgado até o final de dezembro.
A expectativa é que o número total de vítimas ultrapasse 50 casos, o que manterá o feminicídio como um dos crimes de maior crescimento proporcional em 2025.
“Compreender o perfil profissional e social dos autores é essencial para desenvolver políticas públicas eficazes de prevenção. Não basta punir é preciso intervir antes que a violência se concretize”, declarou uma fonte da PJC-MT à reportagem.

































