A Polícia Civil de Mato Grosso, em apoio às forças policiais do Rio Grande do Sul, cumpre nesta segunda-feira (2) um total de 22 ordens judiciais durante a Operação Cura Ficta, que mira a desarticulação de um grupo criminoso interestadual especializado no golpe do “falso médico”. O esquema era liderado por um detento da Penitenciária Major PM Eldo Sá Corrêa, em Rondonópolis, que orientava ações voltadas a extorquir familiares de pacientes internados em Unidades de Terapia Intensiva (UTIs).
Entre as medidas, foram expedidos nove mandados de prisão preventiva e 13 mandados de busca e apreensão, cumpridos em Mato Grosso, Goiás e Rio de Janeiro.
Golpe explorava vulnerabilidade de famílias
A investigação, coordenada pela Delegacia de Repressão aos Crimes Patrimoniais Eletrônicos (DRCPE/DERCC) da Polícia Civil gaúcha, teve início após registros feitos em Porto Alegre e Canoas. Vítimas relataram prejuízos que, somados, passaram de dezenas de milhares de reais em poucos dias.
O levantamento apontou que o grupo criminoso agia de forma organizada, explorando o desespero de familiares de pacientes em estado grave. Os golpistas telefonavam para as vítimas se passando por médicos ou diretores clínicos, usando nomes e fotos retirados da internet. Com acesso a informações sobre os pacientes, informavam um suposto agravamento no quadro clínico – como leucemia ou infecções graves – e exigiam pagamentos imediatos via Pix, alegando que exames ou medicamentos não seriam cobertos pelo plano de saúde.
Comando operava de dentro do presídio
Mesmo encarcerado, o líder articulava as ligações e definia a logística da operação criminosa. Em diligências anteriores, policiais já haviam apreendido dentro da cela cadernos com roteiros de abordagem, dados bancários e números de telefone usados no golpe.
Uma mulher que vive em Rondonópolis, companheira de um dos investigados, atuava como principal operadora financeira do esquema. Ela gerenciava contas bancárias, organizava o fluxo do dinheiro e estava em uso de tornozeleira eletrônica, reforçando seu histórico de reincidência.
Lavagem de dinheiro e estrutura tecnológica
As investigações revelaram um esquema robusto de lavagem de dinheiro e ocultação de identidade. No Rio de Janeiro, no bairro de Guaratiba, dois operadores eram responsáveis por fornecer e movimentar contas bancárias usadas para receber os valores obtidos com os golpes.
Um dos investigados em Rondonópolis chamou atenção ao possuir 121 chaves Pix vinculadas ao mesmo CPF, número considerado extremamente alto e que indica o uso profissional dessas contas para pulverizar o dinheiro ilegal.
O grupo também utilizava emuladores de Android em computadores, permitindo operar várias contas de WhatsApp e aplicativos bancários ao mesmo tempo. A estratégia dificultava o rastreamento policial e ampliava a capacidade de atuação dos criminosos.
As apurações apontam ainda que parte dos lucros do esquema era destinada ao financiamento de uma facção criminosa com forte presença em Mato Grosso.
Operação mira prisão e asfixia financeira
O nome Cura Ficta faz referência direta à falsa promessa de tratamento ou melhora de saúde utilizada pelos golpistas para enganar as famílias. Com o avanço da operação, a Polícia Civil busca não apenas deter os envolvidos, mas também estrangular financeiramente o grupo e apreender novos elementos de prova.
A ação reforça o compromisso das forças de segurança no enfrentamento a crimes que, além de causar prejuízo financeiro, provocam danos psicológicos profundos em pessoas em situação de extrema vulnerabilidade.
































