A crescente demanda por inteligência artificial tem provocado debates não apenas sobre ética e regulação, mas também sobre seus impactos ambientais, especialmente no consumo de água potável. Com a expansão acelerada da IA generativa em áreas como educação, saúde, segurança e comunicação, surgem questionamentos sobre a sustentabilidade desse avanço.
Estudos realizados por universidades norte-americanas indicam que o treinamento de grandes modelos de linguagem, como os utilizados por plataformas de IA generativa, pode consumir milhões de litros de água. A Universidade da Califórnia estima que o treinamento de um único modelo de larga escala consome o equivalente a duas piscinas olímpicas em água, utilizada principalmente para resfriamento dos servidores em data centers.
O uso contínuo desses sistemas também contribui para o aumento desse consumo. A cada interação com um assistente de IA, como o ChatGPT, estima-se que sejam utilizados em média 500 ml de água, considerando o processo completo de operação e resfriamento. Em larga escala, esse número representa um impacto significativo, principalmente em regiões com escassez hídrica ou em áreas que dependem de recursos limitados para abastecimento humano e agrícola.
Especialistas alertam que, se mantida a atual curva de crescimento, o setor de inteligência artificial pode ultrapassar o impacto ambiental de indústrias como a aviação até o final da década. A discussão ganha ainda mais relevância diante da constatação de que menos de 1% da água disponível no planeta é potável e acessível para consumo direto.
Algumas empresas já começam a buscar alternativas mais sustentáveis, como o uso de fontes de energia renovável e sistemas de resfriamento que reutilizam a água. No entanto, essas iniciativas ainda representam uma pequena parcela do setor. Organizações ambientais e pesquisadores defendem a criação de políticas públicas que regulem o uso de recursos naturais por parte dos grandes operadores de tecnologia, especialmente em regiões que enfrentam crise hídrica.
O avanço da inteligência artificial impõe, portanto, novos desafios à gestão global da água. A tecnologia que revoluciona o presente também exige planejamento para garantir que seu desenvolvimento não comprometa recursos essenciais para o futuro.