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Reajuste no pedágio da BR-163 reacende debate sobre infraestrutura, concessões e custo logístico no Norte do país

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A nova tabela de tarifas da BR-163, aprovada pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT) e publicada nesta terça-feira (10) no Diário Oficial da União, entra em vigor à meia-noite desta sexta-feira (13) e já provoca reações entre caminhoneiros, produtores e lideranças da região Norte. A rodovia, que liga Sinop (MT), a 503 km de Cuiabá, até Miritituba (PA), é uma das principais artérias logísticas do escoamento da produção agrícola do Centro-Oeste rumo aos portos do Arco Norte.

 

O reajuste contempla trechos nos municípios de Cláudia e Guarantã do Norte (MT), onde os valores vão de R$ 5,20 (para motocicletas) a R$ 93,60 (para caminhões com nove eixos). Em Trairão, no Pará, as tarifas podem chegar a R$ 676,80, dependendo do tipo de veículo. A concessionária responsável pela administração da rodovia é a Via Brasil BR-163, que alega que o reajuste está previsto em contrato e se refere à recomposição inflacionária e à necessidade de garantir a continuidade dos serviços prestados.

 

Custo logístico cada vez mais alto

 

Embora contratualmente previsto, o reajuste tem impacto direto no custo do frete e, por consequência, no preço final dos produtos que saem da região. Caminhoneiros autônomos, cooperativas de transporte e agricultores já alertam que o aumento do pedágio pode agravar a situação econômica de quem depende da BR-163 para sobreviver. Para um caminhoneiro que percorre os 1.009 km entre Sinop e Miritituba com um bitrem de nove eixos, o custo total apenas com pedágio pode ultrapassar os R$ 1.000, o que representa um peso significativo sobre o lucro de pequenas transportadoras.

 

“É mais um golpe para quem está na estrada. O diesel sobe, o pedágio sobe, e a gente mal consegue repassar isso no frete”, afirma José Valter da Silva, caminhoneiro que faz a rota MT-PA há 11 anos.

 

Apesar da justificativa da concessionária de que o aumento garante a manutenção e melhorias na rodovia, muitos usuários questionam a efetividade dessas promessas. Trechos da BR-163, especialmente no Pará, ainda sofrem com buracos, falta de sinalização, ausência de acostamento e pontos críticos de escoamento em períodos chuvosos. Embora a pavimentação da rodovia tenha sido concluída com grande alarde em 2020, a conservação de trechos estratégicos ainda é precária, o que leva a questionamentos sobre o retorno efetivo do valor pago nos pedágios.

 

Associações ligadas ao transporte e à agricultura cobram maior fiscalização sobre o cumprimento das obrigações previstas no contrato de concessão. Em vários pontos da rodovia, especialmente fora dos perímetros urbanos, motoristas relatam ausência de estrutura mínima como áreas de descanso, serviços de emergência e segurança.

 

A Via Brasil informou que os pedágios podem ser pagos com dinheiro, cartão de débito, Pix e tags automáticas, o que, segundo a empresa, facilita a fluidez do trânsito e evita filas. Mas a modernização do sistema de cobrança não responde à principal crítica: a ausência de maior transparência quanto ao uso dos recursos arrecadados e à execução das obras prometidas.

 

“Os motoristas pagam, mas não veem retorno. É como colocar dinheiro em um poço sem fundo”, afirma um empresário de transporte que preferiu não se identificar.

 

A BR-163 sempre foi símbolo da luta pela integração nacional, por décadas enfrentando gargalos logísticos e cenas recorrentes de filas de caminhões atolados na lama. A pavimentação, enfim concluída, representou uma vitória para o setor produtivo. Mas a adoção de tarifas elevadas e pouco proporcionais ao nível de serviço prestado sugere que a estrada serve mais aos interesses das grandes corporações exportadoras e das concessionárias do que à população local.

 

Com o aumento do custo logístico, cresce também a sensação de que o peso da infraestrutura continua sendo carregado por quem está no trecho: o pequeno transportador, o agricultor familiar e os profissionais da estrada.

 

 

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